Saiba se SC está perto da imunidade de rebanho para Covid-19

Geral
Santa Catarina | 30/09/2020 | 18:21

Informações: ND+

A discussão sobre imunidade de rebanho ganhou força nos últimos dias, após um estudo da Universidade de São Paulo (USP), sem revisão de pares, sugerir que Manaus (AM) teria atingido esse estágio de proteção. A pesquisa mostrou que 66% da população do município já tinha sido infectada pelo vírus e que isso justificaria a queda no número de infectados.

Pouco mais de sete meses se passaram desde a confirmação dos primeiros casos do novo coronavírus em Santa Catarina, em março, até terça-feira (29), quando o total de infectados ultrapassa os 213 mil. Mesmo com uma tendência de queda na propagação do vírus, especialistas apontam não ser possível afirmar que o Estado tenha atingido a imunidade de rebanho.

“A gente ainda está na fase de pandemia da doença”, diz a infectologista da Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive/SC), Regina Valim. “Nós não temos todas as pessoas contaminadas e nem uma quantidade importante de pessoas que já se contaminaram e que possam funcionar como uma imunidade de rebanho”.

Apesar do alto número de infectados, Valim avalia que não é possível afirmar quando Santa Catarina atingirá a imunidade de rebanho. Isso porque não há um consenso sobre qual a proporção populacional de infectados garantiria o declínio da transmissão da doença.

“Para você ter imunidade de rebanho você tem que ter uma parcela da população que tenha sido exposta. O que faz com que traga uma certa proteção para o outro grupo que não teve ainda essa exposição. Isso é uma coisa difícil de a gente avaliar com a Covid-19 porque é tudo muito novo”, conclui.

Após estabilidade, Manaus teve pico de casos

O estudo de soroprevalência realizado por pesquisadores da USP em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) mostrou que 66% da população de Manaus já foi infectada pelo novo coronavírus.

Segundo os autores da pesquisa, o resultado sugere que a imunidade de rebanho poderia ter contribuído para a queda no número de casos.

A pesquisa durou sete meses, de fevereiro a agosto, quando o estudo foi concluído. Neste período, os pesquisadores analisaram mil amostras por mês de sangue doado à Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam). Eram observadas a presença de anticorpos contra o SARS-CoV-2.

“Ao que tudo indica, a própria exposição ao vírus levou à queda no número de novos casos e de óbitos em Manaus. No entanto, nossos resultados indicam uma soroprevalência bem mais alta do que a estimada em estudos anteriores, disse Ester Sabino, professora da FM-USP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e coordenadora da pesquisa, em entrevista à agência Fapesp.

Aliados à modelagem matemática, os pesquisadores concluíram que a soroprevalência foi aumentando ao longo dos meses passando de 45,9% em abril para 64,8% em maio. Nesses meses, a capital do Amazonas enfrentou o colapso dos serviços de saúde e funerário. A pesquisa ainda não passou por revisão de outros cientistas.

Mesmo com os indicadores mostrando uma imunidade de rebanho, Manaus viu o número de casos crescer novamente. Segundo dados da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM) houve um aumento de 12% no número de casos de Covid-19, na comparação entre as últimas duas semanas.

O prefeito Arthur Virgílio Neto (PSDB) chegou a propor um lockdown por um período mínimo de duas semanas.

“Não é hora de relaxar”

Durante o mês de setembro uma série de indicadores sobre a Covid-19 em Santa Catarina apresentou queda. Entre eles estão a taxa semanal de crescimento no número total de casos, a média semanal móvel de casos e de óbitos.

Na avaliação do Núcleo de Estudos de Economia Catarinense (Necat), vinculado à Universidade Federal de Santa Catarina(UFSC), tais comportamentos podem indicar uma desaceleração no ritmo de contágio.

Coordenado pelo professor Lauro Mattei, o Necat acompanha a evolução do vírus no Estado e alerta que mesmo com a queda “não é hora de relaxar as medidas de prevenção”.

Entre os dias 1º e 29 de setembro foram notificados mais 29.624 novos casos. “Isso significa que o nível de contaminação da população catarinense ainda continua em ritmo acelerado”, diz o texto do boletim mais recente publicado nesta terça-feira.

Apesar de ser menor do que o registrado em julho e agosto deste ano, 403 mortes foram registradas neste mês de setembro, no período avaliado pelo Necat. Isso mostra que o número de óbitos contabilizados diariamente pela Secretaria de Estado da Saúde segue alto, mesmo com uma redução na média móvel.