Autor e foto: Angela Maria Curioletti
A região Noroeste de Santa Catarina é conhecida por ter alguns dos roteiros preferidos de quem faz contrabando ou descaminho de mercadorias, com eletrônicos, e drogas, lícitas ou ilícitas. São Lourenço do Oeste e Campo Erê sãos os municípios que estão também na rota do tráfico, principalmente de produtos vindos do Paraguai.
Cigarros e maconha são as mercadorias apreendidas com mais frequência pelos policiais da região, como explica o delegado de São Lourenço do Oeste, Marcelo Marins. “Com menos frequência temos os eletrônicos”, acrescenta. Neste caso, Marins frisa as lojas e vendedores autônomos, cujos “donos” viajam toda a semana e trazem diversos produtos para a venda.
E com tanta entrada e saída de mercadorias, quais as ações feitas para dificultar o acesso? O delegado diz que a um trabalho feito direto nos postos da Receita Federal, nas fronteiras, além de câmeras de monitoramento e blitz – operação padrão de fiscalização -, onde há abordagem de carros e pessoas suspeitas. Há também um trabalho em conjunto com a Polícia Rodoviária Federal e a Polícia Militar Rodoviária, onde os profissionais trocam informações com os setores de inteligência.
Marins salienta que há ações com a Estratégia Nacional de Fronteira (Enafron), que repassa recursos do governo federal para as polícias se equiparem para melhorar a fiscalização nas fronteiras.
Transporte
Na medida em que a polícia trabalha em conjunto e fiscaliza a ação dos suspeitos, estes também tentam mudar suas táticas para poderem passar com as mercadorias sem terem problemas. O delegado de São Lourenço do Oeste conta que hoje os agentes têm utilizado carros grandes para o transporte das mercadorias contrabandeadas, como Honda Civic, Vectra e caminhonetes. “Detalhe, os carros são modificados. Não tem banco, por exemplo, tem insulfilm muito escuro e, muitas vezes, são clonados.”
Já o destino é mais comum, são cidades grandes e, quem passa por São Lourenço do Oeste e Campo Erê, tem na maior parte das vezes o Rio Grande do Sul como parada final. Mas, Marins lembra que Chapecó já está entre os destinos.
Apreensões
Em 2014, de 1º de janeiro a 31 de dezembro, conforme dados da Polícia Civil de São Lourenço do Oeste, foram apreendidos aproximadamente 536 quilos de maconha e 16 pacotes de cigarro. Quanto a eletrônicos e outros produtos de descaminho, não há registros. Já em 2015, no período de 1º de janeiro até 31 de maio, somente 3,70 gramas de maconha foram apreendidas.
Problema social
São Lourenço do Oeste tem uma realidade muito parecida com outras cidades maiores, onde os jovens menores de idade é quem cometem os delitos a mando de bandidos com idade acima dos 18 anos. “Sou a favor da maioridade penal para 16 anos”, diz o delegado Marins, que vê a falta de segurança nas cidades atrelada a um problema social. “É mais fácil o governo investir em escolas e saúde do que em presídios”, acrescenta.
Os jovens infratores, diz ele, estão sempre associados a famílias pobres e com muitos filhos, não tem educação, empregos não pagam o suficiente e por isso o tráfico se torna uma maneira mais fácil de sobrevivência. “Se com 16 anos o cidadão pode votar, porque ele não pode ir preso?”, questiona o delegado.