Autor: Angela Maria Curioletti
Foto: Divulgação
Em 2024, segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), o Brasil realizou mais de 2,3 milhões de procedimentos cirúrgicos estéticos, assumindo o topo do ranking mundial de cirurgias plásticas. Mas, por trás dos números, cresce uma preocupação: até onde vai a busca por um ideal estético e onde começa a responsabilidade médica?
Vinicius Julio Camargo, cirurgião plástico de Pato Branco (PR), fala em seu livro ‘O Sucesso Além do Jaleco’ sobre a responsabilidade dos profissionais médicos diante do desejo dos pacientes. O cirurgião plástico, empreendedor e escritor atua ainda como diretor técnico do Alda Instituto de Saúde, é sócio-fundador da Oxyneo® (primeira clínica de medicina hiperbárica do sudoeste do Paraná) e idealizador da plataforma Átrio, voltada à gestão de rotinas de atendimento e administrativas para clínicas multidisciplinares. É autor de dois livros e defensor da integração entre ética, gestão e excelência médica.
Popularização dos procedimentos estéticos
Questionado se a popularização dos procedimentos estéticos é uma conquista democrática ou um perigo silencioso, Camargo diz que é preciso levar em consideração a questão da saúde médica, profissional e também do desenvolvimento humano. "Com o avanço das tecnologias, redução dos custos e facilidade de acesso aos produtos destinados à estética, muitos procedimentos se tornaram mais acessíveis para a população". Para ele, as redes sociais, filtros e postages de celebridades acabam pressionando a sociedade a terem padrões irreais e que podem alimentar transtornos da imagem corporal e uma baixa autoestima.
E o que mudou na busca por procedimentos estéticos nos últimos dez anos? O cirurgião plástico enaltece que se antes buscavam procedimentos para corrigir o que era um defeito, hoje a busca é pela valorização da própria autoexpressão. As pessoas, segundo ele, querem parecer mais jovens, algo mais visível e imediato "principalmente as selfies e da exposição nas redes sociais", reforça.
Camargo diz ainda que, quando se fala de procedimentos mais acessíveis, como botox e preenchimentos, é importante considerar que a facilidade e a busca por maior equilíbrio no rosto, ou correção de pequenos detalhes, deve ser sempre respaldada por profissional capacitado, que respeite a individualidade de cada pessoa, o aspecto natural.
Já recusou procedimentos
O profissional não recua ao falar que já recusou realizar um procedimento por entender que não era o melhor para o paciente. "Isso faz parte da minha responsabilidade como médico". Ele acrescenta que o seu trabalho envolve escutar as expectativas do paciente, compreender os motivos que o levam a fazer isso e, sobretudo, proteger sua saúde física e emocional. "Em alguns casos, o desejo do paciente está baseado em expectativa irreal ou até de influências externas, que não refletem a necessidade ou até a possibilidade de mudança."
E como combater o surgimento de profissionais não habilitados oferecendo procedimentos estéticos? Camargo diz que o trabalho envolve educação, fiscalização e posicionamento ético dos que são profissionais habilitados. "Primeiro: é fundamental concientizar a população, porque muitos procuram serviços por desinformação ou mesmo visualizando uma vantagem econômica, acreditando que estão buscando um resultado estético, quando na verdade estão colocando a saúde em risco".
Nem sempre é simples
Para o cirurgião plástico, o público em geral ainda não entende sobre os riscos de um procedimento estético aparentemente simples. "Muitas vezes estes procedimentos são apresentados de forma banalisada, como se fosse um cuidado estético simples". Ele credita isso ao apelo comercial que está muito forte, em divulgações agressivas, especialmente aquelas com "antes e depois", que cria uma falsa sensação de simplicidade e segurança.
Sobre o livro
Com o livro ‘O Sucesso Além do Jaleco, Dr. Vinicius Julio Camargo espera abrir os olhos dos profissionais. "A medicina é uma vocação nobre, mas muitos profissionais acreditam que basta dominar a técnica para alcançar a realização profissional. Eu penso diferente. Eu quero mostrar que o verdadeiro sucesso está em entregar excelência profissional com inteligência emocional, visão estratégica, boa gestão e, acima de tudo, propósito.
Para Camargo, o profissional precisa construir uma carreira sólida, sustentável e humana, "onde o profissional seja um líder, um empreendedor e um exemplo para sua equipe e pacientes". Ele frisa que é possível, e necessário, cuidar do outro sem se abandonar. "Inovar sem perder a ética, prosperar sem se distanciar da essência profissional".
Em seu livro, Camargo diz reunir sua trajetória, erros, acertos e aprendizados de uma vida inteira de dedicação à medicina. "E o 'Sucesso Além do Jaleco' é sobre construir um legado com equilíbrio, impacto e verdade."